Delfim Machado | 2023-05-11
A comissária europeia da energia, Kadri Simson, disse esta quinta-feira que a Europa está a emergir, nesta crise do clima, com "um otimismo cauteloso". Em Matosinhos, no Fórum da Sustentabilidade e Sociedade, a comissária sublinhou que os estados-membros "têm de acelerar" os investimentos em energia limpa, nomeadamente hidrogénio verde.
Há uma "mudança sem precedentes" na Europa que foi acelerada devido à guerra na Ucrânia, mas é preciso fazer mais. A mensagem foi deixada esta quinta-feira pela comissária europeia da energia, Kadri Simson, no Fórum da Sustentabilidade e Sociedade que começou hoje em Matosinhos.
Segundo Kadri Simson, a Comissão Europeia pretende consumir o dobro das energias renováveis até 2030 e, com isso, continuar a reduzir a dependência do gás russo: "A Rússia exporta menos de 10% do gás que a Europa consome. A Noruega ultrapassou a Rússia enquanto nosso principal fornecedor. Conseguimos diminuir a procura de gás em 18%, esta meta era inicialmente de 15%".
Se, por um lado, as metas europeias para o clima estão a ser antecipadas, Kadri Simson defende que os estados-membros "têm de acelerar" os investimentos em renováveis ou, no limite, em bens e serviços com baixo teor de carbono emitido. Elogiou, ainda, a visão de Portugal e Espanha na criação de interconexões energéticas: "Portugal é um dos casos que vai precisar deste tipo de investimento para reforçar a nossa capacidade energética e os projetos de interconexão entre Portugal e Espanha serão decisivos".
Apesar do "otimismo cauteloso", Kadri Simson advertiu que "a incerteza permanece", pois "a Rússia é imprevisível" e "podemos ter um inverno difícil" nalguns pontos do continente europeu.
"Estamos na linha laranja", ilustra Jos Delbeke
Na mesma senda, Jos Delbeke, do Instituto Universitário Europeu e especialista em política do clima, falou do copo "meio cheio ou meio vazio". Traçou, porém, um cenário mais drástico a nível mundial: "Ainda não estamos com um bom desempenho". Isto porque há países como "a China, a Índia e a Indonésia" que, enumerou, ainda estão "muito dependentes do carvão".
Jos Delbeke, que foi peça fundamental na assinatura do Acordo de Paris, lembrou que a industrialização da China pôs o planeta no vermelho. Agora "estamos na linha laranja" pois conseguimos reduzir "para 2,5 a 2,9 graus celsius" o valor do aquecimento global previsto para 2100. Seria de cinco graus caso nada fosse feito.
Uma parte desta redução é da responsabilidade europeia que avançou recentemente com cinco medidas para chegar aos 55% de redução da emissão de gases até 2030: o preço do carbono a 100 euros por tonelada emitida, o fundo climático social para apoiar projetos verdes, o reporte obrigatório das emissões por parte das empresas, a imposição de limites à venda de carros com motor de combustão interna e o regulamento da "Partilha de Esforços", em que os países mais ricos terão de reduzir mais emissões.