Patrícia Naves | 2023-02-08
Na quinta sessão dos "Diálogos de Sustentabilidade" o foco vai estar nos diálogos interculturais: uma ferramenta cada vez mais importante, porém ainda muitas vezes descurada, para garantir cidades e comunidades mais inclusivas e sustentáveis.
O ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, junta-se a Mário Lúcio, cantor, escritor e antigo ministro da Cultura de Cabo Verde, num debate onde se aponta ao futuro, lendo os alertas do passado recente. É "um tema muito atual e importante", ligado à forte necessidade de "no Mundo, mas também do ponto de vista nacional, criar diálogos entre heranças culturais distintas", começa por explicar Francisco Madelino, presidente da Fundação INATEL.
Na prática, a globalização que se viveu nas últimas décadas trouxe efeitos, consequências: e uma "reação" nas cidades, "muitas vezes compostas por pessoas que têm heranças culturais distintas, é a de reagir com recusa do outro ou até de formas radicais", frisa Madelino. Para este responsável, há "duas formas" de lidar com isto: a dos nacionalismos, xenofobias e radicalismos; e uma outra, "a única saída", que é "sermos capazes de ver a riqueza nas diferenças e de estabelecer pontes e desenvolver esse diálogo intercultural", reforçando que este é um tema para a Fundação INATEL, que tem desenvolvido várias atividades neste campo "extremamente importante".
Sobre os intervenientes, além do contributo do ministro da Cultura português, o presidente do INATEL destaca o exemplo que pode ser dado por Mário Lúcio, ex-ministro da Cultura de Cabo Verde, artista, cantor, poeta, escritor, e que "tem passado a vida, quer nos trabalhos culturais que tem feito, quer no discurso, a tentar demonstrar que todos nós somos um resultado de muitas heranças culturais". Sobretudo a partir do Cabo Verde ou da própria lusofonia, "mas também de Portugal, que se insere no mundo mediterrâneo e que em séculos e milénios foi misturando culturas, fazendo isso muitas vezes sem guerras, transformando-o numa riqueza para todos nós. E é sobre esta matéria, dos nacionalismos/xenofobias, versus diálogos interculturais que se pretende lançar o debate": nestas conferências mas também para lá delas.
Agenda 2030
Além da sua atualidade, o tema liga ainda com os objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU, que na agenda 2030 introduzem a questão social junto da agenda da sustentabilidade ambiental. "No fundo, a ideia é de que nós vivemos num Mundo que tem um problema de sustentabilidade não apenas ambiental - o desafio de ter um planeta que chegue para todos nós e para as gerações futuras -, mas também de encontrar uma fórmula de organização social e económica que seja sustentável", salienta Francisco Madelino, destacando ainda que se pretende "uma sociedade não apenas mais justa, mas que permita que todos possamos viver em comunidade. Cada vez mais vivemos em grandes metrópoles, compostas por muita gente, com muitas heranças culturais, grandes diferenças sociais, e isto tem feito nascer fenómenos de fundamentalismos, de combate étnico, religioso. Os diálogos interculturais são por isso uma das matérias que a agenda 2030 coloca para que o Mundo tenha sustentabilidade".
Em conversa recente a propósito do encontro, o ministro Pedro Adão e Silva explicou como acredita que a cultura é, nas suas várias funções, também um mecanismo muito poderoso para a formação de comunidades de pertença, não havendo "identidade e comunidade sem cultura" nem a "possibilidade de diálogo e de partilha" sem ela.
Já Mário Lúcio, o outro interveniente no diálogo desta quinta-feira, pretende trazer para o debate o tema da intraculturalidade e o exemplo da sociedade cabo-verdiana, historicamente heterogénea mas onde "a heterogeneidade criou uma identidade".
Sobre estes "Diálogos de Sustentabilidade" que se aproximam do final, o presidente do INATEL aponta ainda que têm estado a correr "muito bem", quer pelos intervenientes e convidados como pelos debates, todos no âmbito de temas incontornáveis da atualidade. Como habitualmente, pode assistir ao debate na íntegra a partir dos sites do JN, DN, TSF e Dinheiro Vivo. Está marcado para as 16 horas, no Teatro da Trindade, em Lisboa.