Grande Cimeira

Europa convocada para seguir em direção a um futuro "mais belo"

Adriana Castro  |  2023-05-09


New European Bauhaus desafia diversas gerações, áreas disciplinares e países para traçar estratégias que promovam a sustentabilidade, estética e inclusão.

Chamam-lhe "movimento", mas podemos mesmo intitulá-la "convocatória". Está lançado o desafio à Europa: caminhar em direção a um futuro mais sustentável ou, como descreve José Pedro Sousa, arquiteto e único português da High Level Roundtable (mesa-redonda) da New European Bauhaus, "mais belo". O objetivo da iniciativa, criada em 2020 pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, é tentar "impingir uma dimensão mais tangível às mudanças que o Pacto Verde Europeu pretende introduzir". Até porque nela assentam três valores: a sustentabilidade, a estética e a inclusão.

José Pedro explica melhor: é "uma convocatória a todos os cidadãos, a todas as áreas disciplinares, para, em conjunto, tentarem produzir uma transformação cultural e prática que se possa apreciar no dia a dia e na qualidade de vida dos cidadãos, em direção a um futuro mais sustentável, mais inclusivo e mais belo". Mas nada disso se atinge a solo. Por isso, foi criada uma "mesa-redonda". Uma espécie de comité que pensa e cria estratégias e projetos para chegar a esse objetivo comum. Isto, partindo sempre das fraquezas e dificuldades de determinado local.

"Para tentar discutir a evolução deste movimento e conciliar diferentes perspetivas, foi criada esta High Level Roundtable. É composta por vários elementos de diferentes gerações, áreas disciplinares e países, inclusive até de fora da Europa - da Ásia e de África -, para, em conjunto, termos um fórum aberto participativo e, de uma forma emergente, irmos acompanhando e traçando alguns rumos de forma a que todos possam rever-se no movimento e participar na construção desse futuro mais sustentável", clarifica José Pedro Sousa.

Pensar o bairro do sobreiro

Dos projetos candidatos, os primeiros cinco foram selecionados no ano passado para experiências- piloto. Um deles foi aplicado em Portugal, na Maia: o "Eyes Hearts Hands Urban Revolution". Neste caso, o programa focou-se no bairro social do Sobreiro, numa parceria entre várias entidades e a Câmara da Maia. A intervenção, que chamou profissionais e os 269 moradores a "codesenhar" o bairro, incluiu a reabilitação de vários prédios municipais e a criação de uma área comum de quase um hectare.

A par do projeto propriamente dito, decorreram várias iniciativas com vista à "adoção de comportamentos energeticamente eficientes". Ou seja, a estética do próprio bairro aliou-se à mitigação da situação de pobreza dos moradores mais vulneráveis, combatendo, ao mesmo tempo, a exclusão social.

Este trabalho mereceu, este ano, uma Menção Honrosa no Prémio Nuno Teotónio Pereira pelo trabalho de reabilitação urbana.

E, já em 2021, a plataforma AYR, desenvolvida pelo CEiiA em parceria com a Câmara de Matosinhos, foi um dos projetos vencedores do New European Bauhaus. Trata-se de uma aplicação digital que contabiliza a quantidade de emissões de dióxido de carbono evitadas quando um cidadão opta por se deslocar de bicicleta, por exemplo. E essa quantia pode reverter-se numa moeda digital.

Cortiça pode ser produto vencedor para revolucionar setor da construção

"A própria Bauhaus, uma escola de arte de há cem anos - uma das mais importantes do século XX e à qual este movimento estabelece uma relação - propunha, através dessa transformação, uma ideia diferente de sociedade, uma ideia diferente de arquitetura e de construção. Ao contrário de outros programas de transição climática, este programa tenta apelar a este lado da criatividade", salienta o arquiteto José Pedro Sousa, observando que a construção e a arquitetura poderão ter um "papel central" nesta transformação verde, uma vez que o betão é um material "extremamente penalizador" no que diz respeito à emissão de dióxido de carbono. Por isso, a utilização de cortiça poderá revolucionar o setor da construção, tal como o regresso da madeira a grandes projetos.

O Fórum da Sustentabilidade e Sociedade inclui uma grande conferência, a 11 e 12 de maio, no Salão Nobre da Câmara de Matosinhos. Pode inscrever-se para assistir ao vivo ou seguir em direto através dos sites do JN, DN, TSF e Dinheiro Vivo.

Mudança na energia

O primeiro painel, na manhã do dia 11, será dedicado às "Tendências globais na energia" e contará com a comissária europeia Kadri Simson (Energia) e Jos Delbeke, especialista em políticas climáticas, entre muitos outros especialistas. O encerramento terá Filipe Silva, CEO da Galp, e Duarte Cordeiro, ministro do Ambiente e Ação Climática.

Futuro sustentável

O segundo painel, dia 11 à tarde, tem como tema "Construir um futuro sustentável e inclusivo", contando com a presença de personalidades como a comissária europeia Elisa Ferreira (Coesão e Reformas) ou o arquiteto Gonçalo Byrne, presidente da Ordem dos Arquitetos.

Objetivos e políticas

O terceiro painel, na manhã do dia 12, debaterá os "Objetivos e políticas para uma Europa sustentável" e contará com o Prémio Nobel da Paz Muhammad Yunus. O arranque da sessão será marcado por uma intervenção do presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e o encerramento estará a cargo do secretário de Estado da Digitalização e da Modernização Administrativa, Mário Campolargo.


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