Sofia Cristino | 2023-01-04
Viana do Castelo tem três torres ao largo da costa às quais se poderão juntar 53 de um investidor alemão. Governo quer produzir 10 gigawatts de eletricidade a partir deste recurso offshore até 2030.
economia azul Portugal começou a dar os primeiros passos na exploração da energia renovável no mar, em julho de 2020, com a instalação de três torres eólicas a 20 quilómetros da costa, em Viana do Castelo. Álvaro Sardinha, especialista em Economia Azul, considera que "começámos tarde, mas o que aí vem vai ser uma revolução". "Os projetos e concursos planeados para a energia eólica no mar são megalómanos", revela ao JN. O Governo definiu a meta de produção de 10 gigawatts de eletricidade a partir de energia eólica offshore até 2030.
Arranca, este ano, o leilão eólico offshore internacional para selecionar a empresa que será responsável por instalar sistemas flutuantes de turbinas eólicas no mar português. A tutela quer colocar em licitação pelo menos três áreas ao largo da costa portuguesa. Álvaro Sardinha diz que "há muitos investidores de vários países que já pediram autorizações ao Governo". Um deles, o investidor alemão BayWa, prevê a instalação de 25 a 53 aerogeradores ao largo de Viana do Castelo, onde já se encontra instalada a central eólica WindFloat Atlantic.
"Se começarmos este ano, talvez em 2026 e 2028 tenhamos produção energética a partir desta fonte", acredita Sardinha, acrescentando que para que tal se concretize terá de "haver muito investimento estrangeiro trilionário". O também fundador e CEO do Centro de Competência Economia Azul frisa que a energia renovável offshore, que faz parte da agenda para a Economia Azul da Comissão Europeia, vai dinamizar muitas indústrias, criando muitos postos de trabalho e novas profissões.
"Esta indústria pode decompor-se em 12 grupos de atividades para as quais Portugal não está preparado. Vamos ter de captar muitas mais pessoas para trabalharem nestes serviços, vão ser criadas profissões e vamos precisar de escolas com um ensino que não temos", explica. "Não há escolas para pilotos de veículos submarinos operados remotamente cá. E vamos precisar de muitos marinheiros, porque estes sistemas têm muitas embarcações a darem suporte", exemplifica.
Décima maior do mundo
São inúmeras as metas que Portugal tem pela frente na exploração mais sustentável dos recursos marítimos, produção de conhecimento científico e proteção do oceano. Portugal tem a terceira maior Zona Económica Exclusiva da União Europeia e a décima maior no Mundo, com uma grande disponibilidade de recursos.
"Temos jurisdição sobre grandes massas de água no oceano e temos de cuidar de fazer a vigilância e fiscalização destes espaços marítimos. Para isso vamos ter, em 2023, uma estratégia nacional de segurança marítima", revela o especialista.
A Estratégia Nacional para o Mar 2021-2030 vai permitir um maior investimento na aquicultura, pescas e frotas marítimas. O transporte marítimo, para onde se preveem transformações profundas, vai passar a pagar uma taxa pelas suas emissões poluentes a partir de 2024. "As embarcações vão ter de instalar novos sistemas para serem menos poluentes, o que será um grande investimento. É um enorme desafio porque têm a mesma atividade comercial e o combustível (mais verde) aumenta o preço duas ou três vezes", esclarece Sardinha.
A Austrália elegeu três setores com maior potencial de crescimento: "biotecnologia, aquicultura e energia renovável a partir do mar (eólica, das ondas, marés e correntes) onde ainda se está a fazer muito trabalho de investigação". O especialista lembra, porém, que não é possível desenvolver os dois últimos sem a indústria marítima, "pilar de desenvolvimento da economia azul" que engloba a indústria metalomecânica e construção das infraestruturas.
Energia a partir das ondas em 2025
Portugal deverá comercializar eletricidade a partir das ondas em 2025. Os testes para instalar um conversor, que transforma energia das ondas em eletricidade, começaram em 2022 na Póvoa de Varzim.
Primeira instalação em Portugal
Parque eólico flutuante ao largo de Viana do Castelo tem três turbinas com capacidade combinada de 25 megawatts. Começou a ser testado há dez anos e foi a primeira implantação eólica offshore em Portugal.
Ocean Winds na Califórnia
A EDP Renováveis, em parceria com a ENGIE, detém 50% do maior operador mundial da eólica offshore Ocean Winds. Recentemente ganhou um projeto para produzir energia ao largo da Califórnia.
Leilão para eólicas offshore
Leilão eólico offshore vai ser a maior licitação do setor energético realizada no nosso país. Os concorrentes terão de apresentar contrapartidas, como o desenvolvimento da indústria metalomecânica..