Alexandra Lopes | 2024-07-02
No terreno há cerca de um ano, o “Sons do Bairro” quer empoderar a comunidade através da música envolvendo jovens, adultos e seniores do concelho de Famalicão. Um projeto municipal que será apresentado, na próxima sexta-feira, no arranque do primeiro “Diálogo de Sustentabilidade”, no âmbito do MOODS (Movimento pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável).
“O projeto vem no seguimento da criação da equipa de acompanhamento e gestão das urbanizações municipais. Quando formamos essa equipa sentimos necessidade de dar um passo em frente e criar um projeto inclusivo e de empoderamento das comunidades que vivem nas urbanizações”, explica João Costa, que, em conjunto com Franklin Monteiro (conhecido por Francão), assume a mentoria do projeto. Francão é músico e João é técnico superior na divisão da Habitação, mas também está ligado a vários projetos musicais.
Abrir o bairro ao exterior
Na prática pretende-se que haja interação artística entre os participantes através da criação musical, ao mesmo tempo que cada um faz o próprio crescimento pessoal. Outro objetivo do projeto é contrariar a ideia de que os bairros são locais que não podem ser frequentados pela comunidade exterior.
“Normalmente, as pessoas das urbanizações vão à procura de recursos da comunidade exterior, mas, com o “Sons do Bairro” é ao contrário. A comunidade exterior vem beber recursos de cá”, aponta João, referindo-se ao estúdio musical que está a ser feito na Urbanização da Cal. “Este estúdio comunitário que estamos a construir no âmbito do projeto está aberto à comunidade”.
Promover a inclusão
Em suma, aponta Mário Passos, presidente da Câmara de Famalicão, o projeto foi pensado para “reduzir desigualdades, para promover a integração e a inclusão, para fortalecer laços comunitários, para promover o respeito pela diversidade cultural”. “E tudo isto são premissas fundamentais para um mundo socialmente mais coeso, mais justo e para o desenvolvimento inclusivo e integrado que se pretende alcançar com o cumprimento dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável”, acrescenta.
“Muita cultura saiu de lugares como os bairros, muitos tipos de música saíram de espaços como este”, diz Francão, referindo se à Urbanização da Cal. Na visão do músico, a cultura “sempre esteve nos bairros. Mas são necessários recursos para a trabalhar”.
O músico já desenvolvia um projeto municipal relacionado com percussão, mas o “Sons do Bairro” veio “criar estrutura”. Uma estruturação que chegou a João, de 25 anos, com formação superior em música, através do boca a boca. A morar em Ruivães, soube do projeto por uma vizinha. Começou a participar e acha “incrível” a evolução que teve com o trabalho ali feito em conjunto.
Aprender com a partilha
“Sou muito solitário, mas o que tenho aprendido a partilhar tem sido muito positivo”, diz João, corroborado pelos mentores. “Sozinho ninguém está bem e nenhum conhecimento pode ser desperdiçado”, diz Francão.
“Não sou de nenhum bairro, mas aqui na Cal sempre fui bem recebido, só tenho boas impressões”, aponta o jovem músico, que é um exemplo de quem veio “beber” recursos ao bairro. Assim como Lucas, de 18 anos, que se dedica ao funk brasileiro e também é habitual trabalhar no estúdio comunitário. “Estou muito feliz. Antes de integrar o projeto tinha uma mentalidade musical muito própria, nunca tinha ouvido o estilo de música do Tó, por exemplo”, refere. “O trabalho vai crescendo e posso tirar referências. Estou muito mais aberto”, nota.
Tó, com nome artístico Toxyna, reside na Cal, tem 42 anos e dedica-se ao estilo musical que alia o flamenco ao hip hop. Há alguns anos gravou um álbum e agora, com o “Sons do Bairro”, voltou a dedicar-se à música. Um dos objetivos é que quem participe no projeto e o próprio projeto possam sair do “âmbito assistencialista” e profissionalizar-se.