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Portugal está a ficar sem espaço para resíduos e tem de arranjar soluções

Redação JN  |  2025-03-15


O secretário de Estado do Ambiente, Emídio Sousa, disse, ontem, em Vila Real, que já é tempo de se aproveitarem melhor os resíduos, que “ainda são vistos como lixo”, e de se passar da fase dos aterros sanitários para as “indústrias de recuperação de materiais”. A sustentabilidade do planeta agradece. O governante está a contar com as universidades para encontrar soluções para os resíduos. Entende que é neste campo que “entram as engenharias, sejam mecânicas, químicas ou outras, para se saber quais os melhores processos para recuperar os materiais incorporados nos produtos que passaram a ser resíduos”. É todo um “manancial de desenvolvimento e de criação de bons empregos”, prevê.

E tudo isto é “desenvolvimento sustentável”, de acordo com Emídio Sousa, pois “quanto menos recursos tiverem de ser extraídos da natureza e quanto mais tempo durar o ciclo de vida do produto e do material, melhor”.

Esta política é inevitável, pois, segundo o secretário de Estado, “Portugal tem um gravíssimo problema na área dos resíduos”. Deve-se à “inércia do setor” e faz com que “dentro de dois anos o país não tenha onde os depositar”. No Norte, em particular, “a capacidade esgota-se dentro de meses”.

Emídio Sousa encerrou o “Diálogo pela Sustentabilidade” promovido pelo MOODS – Movimento pelos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. Foi lá que o diretor-executivo do Grupo Dourogás, Nuno Moreira, o desafiou a inaugurar um projeto-piloto “inovador e único em Portugal” que está a ser desenvolvido pela empresa no aterro sanitário de Urjais, em Mirandela. Consiste na produção de gás natural a partir da combinação de CO2 e hidrogénio. “É gás natural solar”, frisou o responsável.

Aquecimento global

A propósito do aquecimento global, Nuno Moreira acredita que “terá solução no dia em que tirar carbono, hidrogénio e oxigénio da atmosfera for um negócio”. Apesar de ainda “não ser economicamente viável”, tem de se “caminhar com esse objetivo”.

O Grupo Dourogás vai, “muito rapidamente, deixar de ser uma empresa de combustíveis fósseis”. Atualmente, “100% do gás que vende é renovável” e tal só foi possível a partir do momento em que passou a ser um negócio. “De outra forma seria insustentável”.

Atualmente, continua empenhado no fornecimento de gás natural para alimentar os motores dos camiões e autocarros. Neste momento tem “80% da quota de mercado portuguesa”. A diferença em partículas libertadas é de “quase 95%” em relação ao combustível tradicional e “mais de 30% em poupança de CO2”.

Por seu lado, o professor da UTAD Luís Ramos lembrou que um dos desafios que se coloca é “o financiamento dos custos adicionais que a transição energética representa”, nomeadamente na compra de viaturas elétricas. “A transição tem custos globais para os países e custos diretos para as famílias e estas não têm todas o mesmo poder de compra. Se é um desafio global, quem é que vai assumir os custos?”

O dilema sobre o lítio

O docente salientou que tem havido uma preocupação na Europa com esta questão. Mas em Portugal há uma “inquietação com a exploração de lítio e o impacto que ela vai ter”, embora seja “uma forma de substituir os combustíveis fósseis na produção de energia para a mobilidade”.

Apesar disso, Luís Ramos lembrou que tem “impactos enormes no território, com custos elevados para as populações”, nomeadamente no Interior, onde já se exploram as energias hidráulica, eólica e solar. “Há necessidade de se ponderarem as vantagens e os inconvenientes das intervenções de grande escala, que podem pôr em causa o equilíbrio e a ocupação humana de um determinado espaço”, alertou.


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